Sobre emoção e compromisso
Ensinar bem requer, além de conhecimento e competência, doses de responsabilidade e envolvimento emocional
Luis Carlos de Menezes
"Quando as dificuldades e as conquistas são compreendidas como sendo da equipe escolar, surge a paixão pelo bom trabalho."
Profissionais
que lidam diretamente com a condição humana, como pediatras e
psicólogos, sempre precisaram de compromisso pessoal tanto quanto de
capacidade diagnóstica e terapêutica. Outros, como cozinheiros ou
músicos, além de domínio técnico e instrumental, dependem de emoção e
sensibilidade para sua criação cultural. Já os profissionais de
Educação, ao lado de conhecimentos e técnicas pedagógicas, precisam de
ambas as demais condições, ou seja, tanto de compromisso pessoal como de
envolvimento emocional para promover o desenvolvimento cultural e
socioafetivo dos estudantes para os quais lecionam.
É compreensível que isso seja visto como uma situação idealizada por professores que encarem esses desafios em seu dia a dia, mas trabalham em condições que não permitem adotar o comportamento esperado. Sabendo disso, podemos nos questionar o que é preciso para que todos assumam o pleno compromisso de adotar um real envolvimento pessoal com seu trabalho. A chave para tratar essa questão está no "com" da palavra compromisso, que indica reciprocidade e intenção firmada em conjunto - no caso, para cumprir uma responsabilidade social, realizando uma tarefa complexa que demanda envolvimento humano.
Diferentemente da relação entre psicólogo e paciente, não é só com o aluno que o professor se compromete, mas com seu coletivo de trabalho na instituição escolar. E, mais do que na relação do artista com a obra, a sensibilidade e a emoção também se expressam nas relações de uma comunidade de educadores e educandos, não como manifestação individual. Se faltar a responsabilidade assumida em conjunto, com respeito e condições de trabalho, a coletividade perde sintonia ou nem se concretiza, a condução do ensino se torna burocrática e descompromissada, e a sensação dominante passa a ser de apatia, quando não de frustração - tanto dos professores como de seus alunos.
Mas, quando a ação educativa se dá em uma comunidade escolar solidária em suas responsabilidades e na qual dificuldades e conquistas são compreendidas como sendo de toda a equipe, surge a paixão pelo bom trabalho e isso também envolve os alunos. Essa é a condição primeira para a existência de uma verdadeira escola, o que não resolve todos os seus problemas nem elimina tropeços e dramas inevitáveis em qualquer atividade humana, mas cria as condições para que o educar seja realizado como deve - com compromisso e emoção.
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